sábado, 9 de março de 2019

Remédios para alma


Estar melancólico é algo necessário a condição humana. A tristeza, mesmo que passageira, é um momento ímpar em que nos permite profunda reflexão e autoconhecimento – enfatizo: passageira. Àquela que consideramos uma visita e não um hóspede. Não quero aqui confundir o sentimento de tristeza com a depressão. Depressão é uma doença que precisa ser tratada. Quanto a tristeza, é preciso estarmos preparados para, vez ou outra, recebermos a visita dessa “persona non grata”. É salutar.


Durante a realização das pesquisas necessárias para aprofundar na Teoria do Conhecimento, me deparei com um aforismo que me chamou bastante a atenção: - “As palavras são um remédio para alma que sofre. ” Dizem que é de Ésquilo, um dos dramaturgos mais trágicos da Grécia antiga. Tomo-a como uma preciosidade, mas essa frase se choca com outra que atribuem a um outro importante dramaturgo grego chamado Sófocles, que diz assim:


- “Nenhum inimigo é pior do que um mal conselho. ”


Penso que tanto Ésquilo quando Sófocles tinham razão. Conselhos, se bem-intencionados, não são virtude de segunda classe. Uma palavra cálida, forte, diante de um amigo aflito, em dor, em dúvida, em desespero, é um formidável anestésico para a alma sofrida. Muitas vezes, não raro, é o remédio que cura, que tira da cama do desânimo a pessoa enferma. Quantos suicidas poderiam - e podem ser salvos se lhes aparecer diante do coração uma palavra amiga, quantos? Quantos se mataram porque foram ao desespero extremo por falta da sonoridade salvadora de uma palavra de consolo?


Muitas vezes, dentro e fora dos microcosmos que a nós são comuns, passei por poucas e boas. E são raras as lembranças de ter ouvido alguém com voz forte, de ter tido alguém que me desse umas sacudidas, de me chamar a atenção, de trazer-me de volta a razão e celebrar comigo o retorno da paz. Não me recordo. Pelo contrário, lembro dos “incendiários” que muitas vezes me mandaram pôr fogo em Roma.


Dizer que palavras não salvam e não são uma das maiores virtudes do ser humano é prerrogativa de potenciais homicidas. Quanto a dizer que palavras são remédios para alma, sim – elas são. Mas também são as mais envenenadas das flechas. Cuidado com elas... Elas salvam vidas e.... matam, como acontece com qualquer remédio mal dosado.


Email: artscritta@gmail.com




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